É sempre arriscado escrever sobre algum fenômeno em fase de desenvolvimento, pois novas descobertas podem comprometer e tornar obsoletas as conclusões iniciais. Isso ocorre em relação ao COVID-19, coronavírus. No dia 11.03.2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu oficialmente que a propagação do vírus já é uma pandemia, ou seja, a disseminação de uma enfermidade perigosa que infecta muitas pessoas ao mesmo tempo. O Ministério da Saúde prevê que nas próximas duas semanas haverá grande aumento do número de casos de infecções por coronavírus no Brasil e isso gera extrema insegurança nas pessoas sobre as interações sociais.
Líderes de várias organizações, inclusive igrejas, buscam sabedoria para agir e orientar seus liderados quanto ao melhor procedimento nessa questão. Sem dúvida, dois extremos devem ser evitados: descaso e paranoia. Negar a situação de perigo e responder com descaso é sobretudo arriscado, pois sem os devidos cuidados se torna mais fácil a contaminação. Todavia, a paranoia pode resultar em pandemônio e pânico, cujos efeitos ninguém é capaz de prever.
No caso de igrejas cristãs, cuja dinâmica inclui encontros fraternais, cultos públicos e relacionamentos marcados pelo cuidado mútuo e afetuoso, é importante atentar para alguns princípios básicos, listados abaixo. Certamente cada liderança local deverá decidir e instruir seu rebanho quanto a aspectos específicos (alteração de programações, mecanismos de higienização etc.).
- Não temer, mas tomar as precauções necessárias. Pela primeira vez na história, estamos enfrentando e acompanhando o desenvolvimento de uma epidemia em tempo real: toda a mídia, várias vezes ao dia, todos os dias, em todo o planeta, discorre sobre o novo coronavírus. Todavia, algumas informações positivas sobre o COVID-19 quase não são divulgadas. É preciso considerar, por exemplo, que o vírus foi rapidamente identificado, já é possível detectá-lo, que 81% dos casos são de natureza leve, que há 13 vezes mais pacientes curados do que mortos, que o vírus é facilmente inativado e outras coisas mais.[1] Dito isso, algumas precauções devem serem tomadas, pois o descuido, nesse caso, pode ser fatal.
- Tomar alguns cuidados práticos. Conforme divulgado, a lavagem frequente das mãos é a maneira mais eficaz de evitar o contágio com o COVID-19. Além do mais, o vírus pode ser inativado pela higienização das superfícies com uma solução de álcool em gel (no mínimo 70%) em apenas um minuto. Também, é necessário que se evite locais com grandes concentrações de pessoas, principalmente aquelas que incluem pessoas da terceira idade, ou seja, o grupo de risco maior. Um dos melhores exemplos nesse sentido vem do Japão, país tão próximo à China, que por praticar o distanciamento de pessoas tem obtido vitórias nessa luta contra o vírus.
- Procurar compreender e divulgar os meios de prevenção. Sites governamentais oferecem informações sólidas, inclusive com gráficos de fácil assimilação e podem ser facilmente acessados. Seria interessante até imprimir alguns desses gráficos em cartazes e fixa-los em lugares visíveis nas dependências da igreja. Um bom gráfico a esse respeito foi produzido pelo governo do estado de São Paulo, como pode ser observado abaixo.
- Alterar alguns de nossos hábitos culturais. A cultura brasileira geralmente é marcada por expressões afetivas, como aperto de mãos, abraços e beijos. Porém, o mais indicado nesse momento é substituir essas saudações afetuosas por outras mais formais e gentilezas verbais. É preciso lembrar que a melhor maneira de demonstrar afeto nesses momentos consiste no zelo para que a pessoa amada não corra riscos de ser contaminada.
- Cuidar das pessoas idosas. Considerando que a taxa de letalidade do COVID-19 aumenta consideravelmente na classe idosa, é importante conscientizar os irmãos da “melhor idade” (acima de 70 anos) a diminuírem as exposições públicas, inclusive cultos públicos. Nesse caso, sempre que possível, os cristãos dessa faixa etária podem acompanhar o culto pela Internet. Além do mais, é importante que a igreja se ocupe em contatar essas pessoas por meio dos veículos de comunicação (telefone, WhatsApp e Facebook) com o objetivo de demonstrar o afeto e união fraternal em relação a esses irmãos.
- Recomendar a diminuição do número de interações sociais. Algumas reuniões na igreja podem facilmente ser prorrogadas ou até mesmo suspensas. Além do mais, é importante recomendar que os membros da igreja façam o mesmo, no sentido de evitarem encontros sociais com pequenos grupos, mas de natureza familiar e íntima, como churrasco, festas e alguns outros eventos. Sempre que possível, é recomendável transferir essas reuniões para outras ocasiões.
- Motivar a oração e intercessão pela intervenção do Senhor. Nossas ansiedades devem ser lançadas sobre o Senhor e todas nossas preocupações devem ser apresentadas a ele (1Pe 5.7). Além do mais, é necessário interceder por missionários e outros irmãos que enfrentam essa pandemia em outras regiões do mundo e têm sido afligidos de maneira incomum. As Escrituras afirmam que do Senhor é a terra e a sua plenitude (Salmo 89.11). Logo, roguemos a Ele que intervenha e traga cura aos afetados por essa enfermidade.
Finalmente, roguemos ao Senhor que além do alívio, nos conceda sabedoria. Como líderes sobre o rebanho devemos evitar que a pandemia do vírus se torne em pandemia do medo na igreja de Cristo.
[1] Maiores informações, cf. 10 boas notícias sobre o coronavírus em meio a “pandemia de medo”. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-51736012?fbclid=IwAR1eh-nZMj_wyynIWPzYCUg_G67kOVF8ed50zKGQyCYEK3mU266v_9JcvB0. Acesso em: 12.03.2020.
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